Times pequenas, criando arte e com foco laser em fazer builds incríveis de jogos, é isso que o desenvolvimento de jogos indie deveria ser. Geralmente começa com um ou poucos devs que têm uma visão, dispostos a criar um jogo top por pura paixão. Visões que em alguns casos levaram a sucessos épicos com títulos como Minecraft, Terraria e Stardew Valley. No entanto, a triste realidade é que a vasta maioria dos jogos indie nunca chega ao fim.
Além disso, em geral, apenas uma porcentagem minúscula dos jogos que entram em produção dá lucro ou atinge a lucratividade. Mas são especialmente os estúdios indie que enfrentam obstáculos particulares para transformar seu jogo em sucesso.
Desafios e Problemas de Financiamento para Estúdios Indie
Desenvolvedores de jogos querem se dedicar ao que fazem de melhor: focar totalmente na criação de gameplay incrível. No entanto, o sucesso de um jogo depende de muito mais variáveis. Isso cria desafios para times pequenos.
O desenvolvimento de jogos é um processo longo e caro, e devido à baixa taxa de sucesso dos jogos — e, portanto, à incerteza na criação de fluxos de receita futuros —, torna-se um empreendimento arriscado para investidores. Especialmente no caso de estúdios indie que gostam de testar conceitos novos. É por isso que muitos deles são auto-financiados ou usam crowdfunding. Porém, esses fundos só garantem um tempo limitado de runway, e a incapacidade de captar novos recursos leva ao colapso.
Fazendo Concessões
Devido à incapacidade de captar novos fundos, muitos times indie apostam em venture capital (VC) entrando em cena, ou em serem adquiridos por um estúdio maior ou fundidos a um. No entanto, estúdios indie muitas vezes precisam fazer sacrifícios que danificam sua visão, para se alinhar a essas partes. Como VCs e estúdios maiores focam em lucratividade, enquanto o dono do estúdio indie está focado em perseguir sua paixão e criar gameplay top.
Muitos estúdios indie operam com orçamentos apertados e têm dificuldade para atrair capital novo, como dito. Isso anda de mãos dadas com a incapacidade de investir em marketing (de performance), muitas vezes a principal fonte de aquisição de usuários. Além disso, estúdios pequenos geralmente não têm um marketer experiente no time, tornando os esforços de marketing menos eficazes.
Como dito, o sucesso de um jogo vai além do gameplay em si. Donos também precisam considerar e gerenciar o lado financeiro, de recursos humanos, legal e mais dentro do estúdio. Eles preferem focar no desenvolvimento do jogo e terceirizar outras áreas do negócio. No entanto, isso muitas vezes não é possível com um time pequeno e orçamento limitado.
Oferta e Demanda
Outro desafio é a oferta e demanda por novos jogos. A quantidade de jogos lançados está superando a nova demanda, para cada novo jogo lançado há menos players disponíveis.
Esse efeito é exagerado pela longevidade crescente de jogos existentes (hits) e títulos GaaS de alta retenção. Jogos como Rust continuam lançando novo conteúdo, o que retém players existentes e atrai novos. Para um jogo lançado em 2014, ele ainda vai muito bem e tem bons números de crescimento.
Não só indies são desafiados pela competição crescente, mas toda a indústria. Operar com orçamentos pequenos e falta de know-how em marketing só agrava esse efeito.
Crowdfunding
Muitos jogos indie tentam se financiar via crowdfunding, frequentemente pelo Kickstarter. Há alguns títulos indie que foram feitos e viraram sucessos como Shovel Knight, Undertale e Night in The Woods.
No entanto, crowdfunding não é fácil, pois usuários esperam algo de valor em troca. Então, devs frequentemente oferecem contribuições com merchandise, early access ou recursos in-game. E isso pode convencer alguns, mas em muitos casos apenas uma porcentagem bem pequena.
Novos Métodos de Financiamento no Web3
Os desafios para estúdios indie giram principalmente em torno de conseguir funding para continuar o desenvolvimento e lançar um jogo completo. Web3 dá acesso a métodos alternativos de financiamento, permitindo que mais estúdios consigam fundos.
Vendas de NFT
A forma mais comum de captar fundos é vendendo NFT skins, itens ou land. Isso é diferente das pré-vendas típicas de assets in-game, que não são negociáveis e quase sempre ficam confinados aos limites do jogo. Diferente de NFTs, que são negociáveis e abrem a possibilidade de recompensas financeiras, criando um senso de ‘true ownership’.
Criando maior incentivo para players comprarem assets do dev. O estúdio também ganha acesso a um novo fluxo de receita, que são trading fees, e pode taxar baseado na atividade econômica do jogo.
Além disso, estúdios indie conseguem criar sistemas UGC melhores do que fariam no gaming tradicional. E incentivar criadores que agregam valor, levando ao loop de mais conteúdo > mais players > mais engagement > e mais receita. Isso cria menos pressão nos devs para lançar conteúdo novo continuamente.
Vendas de Tokens
Além de NFTs, vender on-chain tokens é outra forma de captar fundos. Novamente, diferente de vender moeda in-game, pois moedas hard e soft tradicionais ficam quase sempre confinadas aos limites do jogo. Assim como NFTs, eles são vistos como uma forma de obter (mais) recompensas financeiras, criando maiores incentivos para comprar tokens.
O Lado Negativo
NFTs e vendas de tokens dão aos devs a capacidade de captar mais fundos diretamente da base de players, porém, não sem desvantagens. Alguns players podem ver a compra de NFTs e tokens como investimento (frequentemente anunciado como tal), mas isso pode criar expectativas irreais. Portanto, fica mais importante para devs gerenciarem expectativas e evitarem desastre quando preços (inevitavelmente) caírem em algum momento.
Além disso, NFTs e tokens tornam significativamente mais difícil balancear gameplay e economias. No caso do gameplay, quando NFT skins não são só cosméticos e dão benefícios in-game, surge o problema de P2W. Isso é mais aceito em jogos mobile com IAPs, mas bem menos em jogos competitivos de PC e console. Também, o uso de tokens e a capacidade de tradar fora do ecossistema do jogo traz grandes dificuldades para criar uma economia sustentável. Como sempre haverá tipos de players que tentarão extrair valor do jogo por benefício financeiro. E podem destruir a experiência do jogo para outros players no longo prazo.
Por fim, em dezenas de casos levou a afetar as motivações do time de desenvolvimento para entregar um produto de qualidade, estúdios abandonando projetos ou simplesmente se aproveitando de especuladores (compradores de NFT e token). As quantias que times menores conseguiram captar levaram em muitos casos a milhões. Algo que parece inviável para estúdios indie pelo caminho tradicional de sucesso.
Clima de VC Diferente
Com o potencial do Web3 gaming, muitos novos fundos foram criados, e fundos existentes começaram a deployar (mais) capital no potencial dessa tech. Participando de seed, strategic ou qualquer rodada antes do public token offering, VCs conseguiam comprar grandes quantidades de tokens por pouco. E usar o público como exit liquidity conforme seus tokens eram liberados. VCs conseguiam encurtar seu ciclo de investimento em anos comparado ao investimento em estúdios de jogos tradicionais. Tokens e NFTs também pareciam uma forma fácil para estúdios gerarem receita, quase garantindo que VCs recuperassem o investimento e mais. Permitindo que muitos times menores captassem fundos, algo que não conseguiriam como estúdio de gaming tradicional.
Enquanto o clima de VC no Web3 era altamente favorável para estúdios em Q4 2020, ao longo de 2021 e início de 2022, más condições de mercado, macro ruins, hacks grandes, insolvências e black swan events viraram esse clima, com VCs deployando capital de forma mais cautelosa no resto de 2022.
A chegada do ‘free-to-own’ (free mints) é como a indústria teve que mudar para tornar vendas de NFT bem-sucedidas. Como paid mints estavam dissipando lentamente na segunda metade de 2022. Isso significa que estúdios têm menos oportunidades de receita ou dependem de outros streams como trading fees. No geral, isso devolve o poder às mãos dos VCs, onde agora é menos sobre fazer um dinheiro rápido, e times fortes (experientes) com bons fundamentals são os que estão sendo financiados.
Toda a Indústria
O que foi discutido neste capítulo não se aplica só a estúdios indie, mas a todos os estúdios de Web3 games. No entanto, acredita-se que estúdios indie puderam e beneficiaram mais quando comparados ao ambiente de gaming tradicional.
Agora que os obstáculos para estúdios indie foram abordados e como Web3 pode resolvê-los, vamos olhar para os benefícios. E como títulos indie ajudaram a moldar a indústria de jogos hoje.
Experimentação para Inovação
Estúdios maiores frequentemente se limitam dentro das linhas de gêneros existentes e só perseguem blends de gênero quando o conceito já foi provado. Essas partes não conseguem assumir grandes riscos associados a falha financeira (ex.: falta de product-market fit). O tipo de risco que estúdios indie podem assumir, levou a muitos blends de gênero e inovações na indústria que não teriam acontecido de outra forma. Grandes exemplos disso são:
- Rocket League - Futebol e corrida
- Cult of the Lamb - Roguelite e sim de gerenciamento
- Golf Story - Golf e RPGs
- Moonlighter - Roguelite e gerenciamento de loja
Experimentação leva a novos gêneros e uma gama mais ampla de gameplay, trazendo novas experiências e mecânicas de jogo, temas diferentes e estilos de arte únicos. Isso ajuda a empurrar os limites da indústria de games e beneficia players ao impulsionar inovação e trazer experiências novíssimas.
Acessibilidade
Jogos indie têm preços mais baixos que a vasta maioria dos AAA e frequentemente exigem menos hardware. Isso baixa as barreiras para players acessarem jogos indie, com menos requisitos orçamentários. Abrindo esse mercado para um público maior.
Indies no Web3
Como a história mostrou, estúdios indie tiveram um papel grande em assumir riscos e experimentação que levaram à inovação. Acredita-se que estúdios indie terão um papel vital similar no crescimento da indústria Web3.
Maior Produção de Jogos
Olhando a quantidade de Web3 games disponíveis (estimada entre 1500 - 2000), e considerando que há cerca de 5M video games tradicionais, não é surpresa que ainda não haja jogos bons disponíveis.
Similar a quando o modelo F2P chegou, tanto devs quanto players hesitavam em participar dessa nova forma de gaming. Como monetização parecia abusiva, P2W injusto e ads intrusivos. No entanto, F2P mobile gaming agora detém a maior fatia da indústria inteira.
Uma grande parte do desenvolvimento de jogos é layering em cima de know-how existente. Clash of Clans (CoC), por exemplo, foi largamente inspirado por Galaxy Life e pega muitas mecânicas de gameplay bem-sucedidas dele. Usando esse conceito provado, CoC virou um dos mobile games mais bem-sucedidos ever. A popularidade do jogo usando o modelo F2P também trouxe muita atenção de players e devs. É provável que o mesmo aconteça com Web3 gaming.
Falhas no Caminho
Web3 gaming falta infraestrutura como tooling, insights de data e case studies de sucesso. Muitos dos jogos maiores em desenvolvimento agora ainda têm chance de serem bad product-market fit (PMF), devido à falta de testes de conceito e know-how existente. Significando que anos de desenvolvimento podem ir pro ralo.
O fato de Web3 permitir que mais estúdios indie consigam ou cptem funding e desenvolvam um jogo leva a uma maior produção de jogos, o que resultará em:
- Maior chance de Web3 games irem mainstream
- Grau maior de inovação, que pode levar a disrupção
- Mais testes, significando mais data, e maior chance de outras empresas alcançarem sucesso
- Atrair mais builders, não só outros estúdios mas também os que suportam a infraestrutura geral
Conteúdo de AI
Os desenvolvimentos mais recentes no campo de AI abalou o espaço de gaming. Deixando a controvérsia de lado, há benefícios associados. O mais importante é reduzir o tempo de desenvolvimento, e portanto os custos de produção. Isso tem potencial para trazer jogos ao mercado mais rápido, e com mais conteúdo. Especialmente benéfico para estúdios indie, cujas maiores limitações são mão de obra e orçamento.
Graus Variados de Sucesso
Em vez de precisar vender X cópias ou DLCs, estúdios indie podem disponibilizar o jogo de graça e monetizar com vendas de assets in-game. Isso levou ao sucesso de The Beacon, um estúdio Web3 pequeno, permitindo que captassem $1.6M. Em vez de tornar a venda de NFT especulativa, eles permitiram que players jogassem de graça, e se quisessem ganhar NFTs poderiam comprar um personagem de $40 com preço fixo pelo dev.
Significando que estúdios podem ser bem-sucedidos com uma base menor de players, disposta a gastar mais para ter ‘ownership’ no jogo que jogam, em vez de gastar entre $5 - $20 uma vez. Vale notar que monetização via NFTs nem sempre será mais bem-sucedida (lucrativa) que counterparts de gaming tradicional.
Conclusão
Web3 tem a capacidade de empoderar estúdios indie e ajudar a resolver os desafios existentes no gaming tradicional. Principalmente em torno de obter (mais) funding. O landscape Web3 permitirá que mais jogos indie tragam sua visão à vida, e considerando a quantidade de inovação que jogos indie trouxeram antes, isso pode ser um grande impulsionador para a indústria. Mais inovações levarão a maior chance de disrupção.
Outro benefício é uma maior produção de jogos. Comparando o número de jogos disponíveis em Web3 vs. gaming tradicional, faz sentido que ainda não haja um ‘hit’. Um grau maior de times menores entrando nesse espaço, e assim mais jogos sendo feitos, aumentará essas chances.
Pelo contrário, é importante notar que as condições atuais de mercado e ambiente de VC ‘piorado’ (mais cauteloso) vão atrasar oportunidades de funding. No entanto, acredita-se que o próximo bull cycle verá um influxo de estúdios menores sendo financiados.
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